Diabetes cresce entre homens; comportamento de risco favorece salto de 160% da doença em BH - Diabetes Saúde

Diabetes cresce entre homens; comportamento de risco favorece salto de 160% da doença em BH

O comportamento relapso do sexo masculino em relação à própria saúde e o avanço da medicina no caminho de diagnósticos mais precisos foram fatores decisivos para uma estatística alarmante. Em Belo Horizonte, o número de homens com diabetes cresceu 160% nos últimos 11 anos, conforme pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. O percentual é quase três vezes superior à média do país, onde a doença aumentou 54% entre eles.

Para a presidente da Regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Beatriz Rocha, até a chegada da meia-idade – quando geralmente ocorre o aparecimento da enfermidade – homens raramente vão ao médico, exceto nos casos em que algo parece errado.

“Estão muito ligados ao trabalho, a prover a casa e a família, construir a carreira. Tudo isso gera ansiedade, descuido com a alimentação, o consumo de alimentos rápidos e não saudáveis e, claro, aumento de peso. Além disso, não têm tempo para exercícios físicos”, descreve a endocrinologista.

Experiência

A falta de atividade física e os maus hábitos alimentares foram determinantes para o aparecimento do diabetes, aos 33 anos, na vida do professor aposentado do Cefet Minas Wellington Luiz Borges, de 61.

“Considero que tenho uma alimentação saudável, apesar de sair da linha em festas e reuniões de família, estou um pouco acima do peso e não tenho me exercitado por causa dos pés. Já operei duas vezes, tudo relacionado ao diabetes. Também tive retinopatia (mal que pode causar cegueira)”, relata o professor, que precisa de aplicações diárias de insulina.

O caso de Wellington é similar ao de outros pacientes que convivem com o diabetes, afirma o diretor da Sbem, Paulo Augusto Carvalho Miranda. “Com o avançar da idade, o impacto da doença na vida das pessoas é gradativo. Por isso é tão importante a manutenção do peso em níveis adequados, alimentação saudável, acompanhamento médico regular e atividade física constante”.

Avanços

Os especialistas relacionam a estatística preocupante também aos diagnósticos mais precoces e a um avanço nos serviços de saúde na capital mineira.

“Apesar de estar ainda distante do ideal, o acesso à saúde em Belo Horizonte está bem melhor em relação à época em que a pesquisa Vigitel começou a ser feita (2007). Os homens descobrem mais a doença hoje que antes”, explica o médico.

O especialista diz, ainda que a medicina tem melhorado na metrópole. “O diagnóstico tem sido feito com mais precisão, precocemente”, completa a médica Beatriz Rocha.

Ambos dirigentes da Sbem acreditam que uma mudança comportamental, tanto masculina quanto feminina, começou. “Nos últimos dois anos, a população parou de engordar e, de forma geral, tende a melhorar a alimentação e a prática de atividades físicas”, coloca Miranda.

Já Beatriz relaciona as alterações de hábitos ao uso da tecnologia. “As pessoas estão muito mais antenadas por questões de acesso, de mídia, de saúde. Isso é importante agora para tentar evitar as doenças no futuro”.

Congresso

O diabetes será um dos principais temas tratados na 33ª edição do Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia (Cbem), que acontece em BH, no Expominas, entre esta terça (7) e 11 de agosto. Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (Sbem-MG), Beatriz Rocha, essa é uma oportunidade para aprofundar as discussões.

“Nosso foco será em formas de diagnóstico e a subclassificação do tipo 2 do diabetes. Além disso, abordaremos as medicações. Hoje são mais de 15 disponíveis, de classes diferentes e efeitos colaterais diversos”, explica a médica.

Outra temática atual a ser tratada é a transexualidade. “Teremos palestras abordando o tratamento endocrinológico de pessoas transgêneras, um assunto em pauta”, coloca Paulo Augusto Carvalho Miranda, diretor da Sbem e presidente do Cbem.

A expectativa é receber cerca de 4 mil médicos durante os cinco dias da programação em cursos de qualificação, workshop, conferências e palestras. Osteoporose, deficiência de testosterona e tumores endócrinos são outros assuntos destacados pelos médicos.

 

Tratamento psicológico é importante para controle glicêmico

Os 12,5 milhões de brasileiros diagnosticados com o diabetes e os 14 milhões pré-diabéticos, de acordo com o Ministério da Saúde, além das consequências físicas da enfermidade, sofrem efeitos psicológicos. O descontrole glicêmico repercute em estresse, irritabilidade e agressividade, dentre outras questões. Mestre em educação em
diabetes, a psicóloga Paula Lamego afirma que as perdas causadas pela enfermidade geram quadros, inclusive,
de depressão. “A retinopatia, doença comum em diabéticos e em que pode ocorrer perda da visão, por exemplo, pode culminar no término de um casamento, em perda laboral, financeira e até sexual, com a redução de ereções no caso dos homens”, detalha a especialista. A impotência sexual, no entanto, é a complicação em que menos acreditam aqueles que têm a doença (36%), mostrou pesquisa recente realizada pela Abril Inteligência com apoio da Astra Zeneca e do Curso Endodebate. O problema que mais assusta é a cegueira, com 72% das opiniões.

Gestão
Apesar de o abalo psicológico gerado pela enfermidade ser significativo, Paula Lamego relata que a busca por ajuda por parte dos homens é ínfima. “Eles procuram por indicação médica, do endocrinologista, não por conta própria ou da família. O médico precisa que o paciente trabalhe essas questões para que  o controle glicêmico não dependa somente da medicação”, coloca. Para convocar os doentes a participarem do tratamento psicológico e entender
o quanto as alterações de glicemia interferem no humor, por exemplo,a psicóloga está envolvida em um projeto chamado Estações da Saúde. O programa, com foco educacional, é promovido gratuitamente pela clínica Diabetes Saúde, localizada no Barreiro, onde Paula Lamego presta atendimento.

“Não temos como tratara doença somente com remédios. O paciente precisa ser um gestor da própria saúde, entender as nuances do tratamento. Temos palestras, atividades físicas,nutrição, dentre outros”,explica.

Publicado no jornal hoje em Diahttp://hojeemdia.com.br/horizontes/diabetes-cresce-entre-homens-comportamento-de-risco-favorece-salto-de-160-da-doen%C3%A7a-em-bh-1.645364

Faça o download do artigo completo aqui.